Páginas

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Fórum Permanete de Cultura de Duque de Caxias.




No dia 29 de janeiro (sexta-feira), às 18h, na Unigranrio (rua José de Sousa Herdy- sala 315 do bloco L), será realizado uma reunião para a criação do Fórum Permanete de Cultura do Município de Duque de Caxias.
Iniciativa importante que merece o apoio e a participação de tod@s.

FAVOR DIVULGUEM EM SUAS REDES!!

VIVA A DEMOCRACIA!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Grandes eventos espotivos no Rio de Janeiro


Entrevista: Luiz Mario Behnken

Flavia Mattar e Jamile Chequer

Da redação colaborou Diego Santos

Copa do Mundo, Olimpíadas e outros grandes eventos esportivos prometem mudar a cara do Rio. Aumento do número de turistas e melhora da economia são os temas que mais aparecem nos noticiários. Mas como será que o evento está sendo pensado no âmbito social? Qual será o legado que devemos exigir? “Não estamos preocupados com o crescimento econômico. Estamos a favor do desenvolvimento social”, diz o economista, conselheiro do Corecon e integrante do Comitê social do Pan, Luiz Mario Behnken.

Ibase: De que forma a sociedade civil está se organizando para acompanhar as decisões relacionadas à Copa e às Olimpíadas?

Luiz Mário: Estamos fazendo mais ou menos como no Pan: convocando todas as organizações da sociedade civil que estejam interessadas em interferir no processo de implementação de um megaevento esportivo. O que aprendemos com o Pan e que vamos fazer agora é uma articulação com as pessoas diretamente afetadas na região das obras. Já temos uma base articulada no entorno do Engenhão, na Lagoa, na Marina da Glória, no entorno da Vila Autódromo etc. Mas sentimos falta, e vamos tentar resolver nesta nova etapa a articulação com esportistas para que façam parte do diálogo. Sabemos que há uma grande dificuldade em convocar o pessoal dos esportes, então vamos investir em ex-atletas, que estão menos comprometidos.


Ibase: Essa mobilização da sociedade civil vai incorporar outros atores como políticos?

Luiz: Não há qualquer alergia em relação aos políticos. Mas temos a certeza que um movimento como esse não pode ser partidarizado e nem direcionado pelos políticos. Cada um tem a sua linha e é legítimo agregarmos essas pessoas, mas eles não podem ser a direção desse movimento ou compromete e desmerece o próprio movimento. O grupo está aberto a esse diálogo. A ideia é agregar instituições representativas que tenham participação mais ativa como o próprio Ibase, a Fase, a OAB, a ABI, e políticos com mais inserção, veradores(as) como Eliomar Coelho, Patrícia Amorim, Andréia Gouvêia Vieira e outros. Eu estou fazendo um trabalho de formiguinha, conversando e esperando as respostas.

Ibase: Na prática, como fica a agenda da articulação?

Luiz: Estamos planejando uma reunião até o início de dezembro para definir uma agenda comum. Em março, queremos realizar um seminário para estabelecer rumos para a ação concreta.

Ibase: Antes das Olimpíadas, acontece a Copa do Mundo. Questões relacionadas a esse evento estarão em discussão pelo grupo?

Luiz: Claro que sim, inclusive, o nome do movimento está em processo de mudança. Já foi pensado em algo como Fórum Social dos Megaeventos Esportivos, mas já falaram que este nome não fica tão bem, então, deve ser algo relacionado aos esportes diretamente. Afinal, quatro grandes eventos serão realizados aqui: Jogos Mundiais Militares, em 2011, Copa das Confederações, em 2013 Copa do Mundo, em 2014 e Olimpíadas, em 2016. Todos esses envolvendo esportes e instalações esportivas.

Ibase: Existe um documento apontando as modificações que precisariam ser feitas para acolher as Olimpíadas. Recentemente, alguns jornais noticiaram a possibilidade de transferir as provas da Barra para outros lugares. Então o projeto original pode ser modificado?

Luiz: Está rolando uma discussão em relação a isso, mas pode ser especulação da imprensa. Parte do comitê, quer manter a Barra. Eduardo Paes e a Rede Globo querem transferir algumas obras para a Zona Portuária e espalhar o evento pela cidade. O projeto original fala sobre a Barra, mas estar no projeto não significa que não é possível modificar. Quem defende o que está no projeto, diz que ele não é modificável, mas basta pegar o projeto do Pan e comparar o que está lá e o que foi implementado e vai ser possível perceber a diferença. Quando o Nuzman, [Carlos Arthur Nuzman, presidente do COI], foi convidado na Câmara dos Deputados para falar sobre o projeto do Pan, a primeira coisa que ele disse foi: “o projeto é feito para ganhar a candidatura, a implementação é outra história.” Se é outra história para o Pan, porque não será para as Olimpíadas? Uma Olimpíada é muito maior que o Pan, ninguém discorda mas a diferença não é tão astronômica assim. A Olimpíada não é dez vezes maior que o Pan, e o orçamento está dez vezes maior.

Ibase: As instalações construídas para o Pan, tinham como promessa a utilização dos complexos para a prática de esportes pela população e formação de novos atletas para Olimpíadas. Esse seria um exemplo de contradição com a fala bonita do papel e a ação de fato. E hoje as instalações não são utilizadas...

Luiz: Eu aprendi que o esporte é divido em esportes de massa, utilizados como políticas educacionais e de saúde e o esporte de alto rendimento, que é o grande motivo de discussão, pois com a realização do Pan, dizia-se que aumentaríamos as condições de nos tornarmos potência olímpica, o que não aconteceu. Nas Olimpíadas de Pequim o Brasil teve desempenho pior do que na edição anterior. O que se vê é que a prioridade do Pan não era o esporte. Por exemplo, o Engenhão nem estava no projeto e depois foi alugado para a iniciativa privada. Os moradores que esperavam uma revitalização ganharam barulho no domingo e especulação imobiliária. A especulação não favorece os moradores da cidade, aumenta-se o valor dos imóveis e também o custo de vida.

Ibase: Quais são os objetivos da articulação?

Luiz: Ainda estão em construção, uma vez que os atores envolvidos ainda não sentaram todos juntos, mas em um ponto vamos bater pé e, pelo menos, eu só fico no movimento se a grande bandeira for a exigência de que todas as intervenções em função desses jogos sejam direcionadas para diminuir a desigualdades social da cidade. E essa decisão tem de estar em todos os documentos. Como fazer isso, se as instalações deverão ser de caráter público, se serão impedidas de privatização é algo a ser discutido. Devemos negociar para que o dinheiro público seja gasto com esse objetivo.

Ibase: A articulação vai precisar fazer bastante barulho...

Luiz: Uma coisa que foi tentada e, pra mim, não obteve sucesso foi aquela mobilização promovida na praia de Copacabana. Todo mundo está com orgulho da cidade, mas não foi uma emoção completamente acrítica. Todo mundo falava “não vamos repetir o episódio do Pan”. As pessoas se preocupam que pode existir corrupção, desvio, favorecimento de alguns etc. Vamos transformar esse sentimento negativo em algo mobilizador para que se consiga um sucesso social real. Se a oportunidade existe para corrupção, existe também para o sucesso. Vamos fazer uma mobilização para levantar essa cidade para algo positivo.

Ibase: A Fiocruz foi a instituição designada para acompanhar o impacto social. Por que a Fiocruz foi escolhida? A instituição teria abertura para um diálogo com a sociedade civil organizada?

Luiz: Especulando, acredito que tenha sido uma tentativa do governo Lula, em aproveitar um órgão com respeitabilidade, e com capacidade de diálogo com seu entorno para centrar algumas questões já que fracassou a criação de uma secretaria especifica no Rio. Durante o Pan havia um escritório para fazer esse acompanhamento. Então, acredito que a indicação da Fiocruz serve para que se tenha um interlocutor com peso político maior para dialogar com os governos Estadual e Municipal. A Fiocruz tem uma trajetória que aponta positivamente para o diálogo.

Ibase: O que você espera que um evento como as Olimpíadas traga de legado social para o Rio de Janeiro?

Luiz: No momento zero, acredito que podemos chegar a 2016 com um índice de desigualdade muito diferente dos encontrados hoje. Um dos sonhos seria de que as Vilas Olímpicas fossem voltadas para a habitação popular e não para a classe média. Habitação puxa transporte, e essa cidade precisa de transporte coletivo. Educação e saúde são também mobilizados pelo esporte, então desejo que esse cenário possa ser favorecido. E, por fim, que as políticas universais tenham espaço e não sejam focalizadas em algumas comunidades, ou determinados segmentos.

Publicado em 18/11/2009.